As
sacerdotisas eram as mulheres que nas sociedades matriarcais desempenhavam a
função que hoje, em nossa sociedade impostamente patriarcal ( já que isso não
parece ser uma condição natural humana ) os homens dominaram, a esfera religiosa
quase que exclusivamente como chefes-sacerdotes.
Nas
culturas onde a grande Mãe, a Deusa, era cultuada antes da dominação patriarcal
haviam templos da Deusa no mundo todo, a presença do sagrado feminino junto com
as divindades masculinas como fator natural e importantíssimo no centro das
cidades que se formaram ao redor dos povoamentos humanos agrícolas e de pesca
junto ao mar ou rios. Essa proximidade com a natura e a compreensão da
dependência total da natureza davam as pessoas uma relação muito direta com a
fertilidade, com maternidade como fator básico da vida, e a Deusa era o
arquétipo sagrado que os conectava a isso.
No
Egito, Suméria, Babilônia, Grécia , Roma, África, Índia, Tibet, China, Japão,
os templos traziam ambos aspectos da divindade, masculino e feminino, muitas
vezes com templos totalmente dedicados as deusas locais, templos de Isis Aset
no Egito e Grécia, templos de Cybele e Vesta na Grécia e Roma, templos de Durga
na Índia, o templo de Salomão tinha Asherá no altar como deusa junto aos
Elohim, Inanna Ishtar ou Astara na Suméria e Babilônia e Vênus na Grécia
também, Yamanjá e Iansã e as Yamins tinha já seus cultos na África subsaariana,
eram muitas e inúmeras formas da Deusa, de acordo com a cultura, mitologia e
língua desses povos.
Os
templos tinham uma importância vital para as cidades, mais do que as igrejas de
hoje tem, pois os deuses e deusas “comiam”. A dinâmica dos templos era baseada
em rituais elaborados de culto de acordo com a tradição de cada povo, e esses
rituais eram sempre fundamentados nas religiões locais que regulavam esses
ritos detendo o conhecimento especifico desses rituais, e os ritos traziam a
prática antiga de oferendas ou sacrifícios.
As
sacerdotisas eram o canal, a Deusa tinha de ser representada por uma mulher
como vinculo mais direto com a deusa, a sacerdotisa não era apenas uma pessoa
que fazia a liturgia ou cuidava dos rituais, elas eram um canal potencial para
a comunicação com a divindade e vez ou outra podia ser um receptáculo, um
canal, um meio para a comunicação com a Deusa.
A
rotina de rituais e oferendas fazia do templo um local de grande fluxo e
comércio, os alimentos e utensílios rituais, as especiarias usadas geravam um
importante comercio local, os alimentos não eram desperdiçados após oferecidos
e geralmente após a oferenda eram uma fonte de alimentação para o templo, e
também para a comunidade mais pobre, os templos celebravam além dos rituais de
passagem habituais como casamentos e iniciações muitas consultas a deusa
através ou de oráculos ou canalização.
Os
ritos acompanhavam as estações, solstícios e equinócios, fases lunares e
relacionava isso as colheitas, pesca, plantio e o próprio desenvolvimento
humano de nascimento e morte, a lua, a agua, o fogo e todos os elementos usados
no templo bem como a presença de um espaço sagrado protegido pela cultura local
como totalmente seguro era um centro de apoio social na verdade, onde as
mulheres tinha um status igual e até acima dos homens em algumas
circunstâncias.
A
Paz, a fertilidade , a fartura nas colheitas e pescas eram aspectos
considerados femininos, ligados ao útero e ao sangue das mulheres que estavam
ligadas pelo sangue ao poder lunar que regia esses aspectos vitais da
humanidade. As leis e costumes protegiam esses templos e sacerdotisas, como as
leis do código de Hamurabi por exemplo, mesmo quando já estava surgindo o
elemento de transição pro patriarcado. Na Suméria Ishtar Inanna era a deusa do
Amor e da fertilidade ligada a Vênus e a estrela Sirius, a mais brilhante no
céu em alguns períodos do ano, essa ligação da deusa com a sacerdotisa.
Um
dos ritos importantes que era praticado nos templos por exemplo era o
Hierogamos, na Suméria esse rito era praticado nos Zigurates entre o governante
ou príncipe a sacerdotisa e ambos representavam o casamento sagrado onde apenas
após o vinho, a unção com óleo, o banho, o sexo ritual o príncipe ganhava o
status de rei-sacerdote pois havia recebido a descida de poder da Deusa que o
abençoava, protegia seu reinado e abençoava as colheitas, batalhas,
nascimentos.
O
Hierogamos era um rito importante e praticado também em situações menores não
apenas em unções, na Suméria as sacerdotisas podiam ser prostitutas sagradas e
venderem seus favores sexuais e rituais a homens por ouro e prata sem perder o
seus status sagrados ou serem consideradas inferior, era um status de liberdade
sexual não submissa e havia uma ordem de respeito baseada na lei ou seja, não
se podia difamar ou violar uma sacerdotisa, ela tinha direito de herança
legalmente e podia dispor de seus bens como quisesse. A condição sagrada do seu
sacerdócio, que podia ser temporário no caso Sumériano como nos conta a
historiadora brasileira Regina S. em seu artigo Sacerdotisas Sumérias.*
Na
Grécia o sacerdócio da Deusa era acompanhado de bastante dedicação, e as vezes
uma sacerdotisa podia ser dedicada a uma deusa ou mesmo a um deus como as
pitonisas, que eram dedicadas a Apolo, que por ter matado Piton, uma
serpente-dragão passou a subjulgar seu espirito, as Pitonisas profetizavam em
vários oráculos, como em Delfos, Grécia, nas encostas do monte Parnasso, e eram
iniciadas nos mistérios Ófitas do
oriente para a Grécia, suas predições eram muito procuradas pelas pessoas que lhes
davam grande importância inclusive politica as predições quando não havia
consenso ,principalmente, sobre uma
situação importante a ser resolvida.
Além
das pitonisas as Sibilas eram sacerdotisas adivinhas muito importantes e que
atuavam não só na Grécia más principalmente no oriente próximo e Turquia e Egito, muitas eram consagradas a
Cybele em seus templos ou cavernas e profetisas e médiuns, canalizadoras da
Deusa, sua adivinhação também vinha de um processo iniciatico e usavam vinho e
ervas bem como fogo e invocações para induzir um transe profundo, suas
predições são amplamente citadas e foram procuradas por pessoas como Alexandre
o Grande ou Césares para negócios do estado, um nome dado na Grécia as Sibilas
foi Melissae, ( abelhas de mel ), era um nome importante que representava uma
antiga ligação com a deusa através dessa simbologia, na Itália, uma importante
família de sacerdotisas se chamou ordem das Melissas e outras ordens ligadas a
deusa surgiram desse nome.
Em
Roma, as Vestais tiveram um tipo de sacerdócio mais rígido, ligado a Vesta, uma
forma de Héstia ou Terra, uma representação do fogo ou calor que aquecia a
terra e dava fertilidade as sementes. O fogo sagrado era mantido aceso o tempo
todo e com o cuidado de nunca se apagar dentro do templo, esse mesmo fogo
mantido como sagrado com rituais e preces e representava a chama purificadora do
casamento entre o Sol e a Terra ( Helius e Vesta ) , as sacerdotisas deviam
guardar o fogo, e também permanecer virgens até o fim de seu sacerdócio o que
era lei passível de pena de morte, é em Roma onde começamos a ver um certo
controle da sexualidade e um certo belicismo que acabou sendo efetivado pela
criação do cristianismo Niceno.
Na
Grécia algumas mulheres ligadas ao templo de Vênus ou em Roma aos templos de
Afrodite se tornavam Hetarias, companheiras, e se especializavam em leitura,
arte, musica, filosofia, e nas artes eróticas e mágicas ligadas a religião da
deusa. Vendiam seus favores sexuais más eram companheiras e algumas tiveram
bastante poder e riqueza e influência politica, como Aspácia que foi amiga de
Socrátes e outros filósofos.
A
sacerdotisa mais importante de nossa história certamente é uma pessoa que foi
relegada ao esquecimento ou teve a imagem propositalmente distorcida: Maria
Madalena, ou Miryan de Magdala.
Como
as monarquias haviam sido derrubadas a séculos entre os hebreus, e o poder
passou a um grupo de famílias sacerdotais, a casta sacerdotal dos Levitas e a famílias
do judiciário ligado ao templo, o Sinédrio, as antigas famílias dinásticas da
Palestina judaica eram vistas com bastante desconfiança e receio por essa casta
sacerdotal.
Os
Levitas haviam imposto por séculos o culto ao deus Monoteista Jeová, e
perseguido ferozmente o culto a deusa Asherá desde a morte de Salomão. Salomão,
o mais opulento e prospero rei de Israel mantinha a tradição antiga judaica de adorar a Deusa
Asherá e os baals ) deuses planetários ) junto ao El, o Senhor, Adonai e até
então não havia ainda um culto único estabelecido embora já houvesse o culto a
YHVH ou Yahvé como deus único pelos levitas, sacerdotes, como sendo um culto da
elite sacerdotal que queriam impor ao povo hebreu.
Salomão
não só mantinha a deusa dentro do Santuário do templo como mantinha toda as
sacerdotisas de vários países e origens ligados ao culto e trazia especiarias e
riquezas até da Índia e Egito para manter o templo, após sua morte seu
descendente, Asa rei de Judá já vivia o clima de cisma politico entre Judá e
Israel ( algo como Israel e Palestina hoje ) e resolveu destituir sua própria Mãe
do direito de governar e destruir, com o aconselhamento dos sacerdotes Levitas,
o culto a Deusa Asherá no templo :
13 E até a Maaca, sua mãe, removeu para que não fosse rainha, porquanto tinha
feito um horrível ídolo a Aserá; também Asa desfez o seu ídolo horrível, e o
queimou junto ao ribeiro de Cedrom ( I Reis )
Os
seguidores de Yahvé e os sacerdotes levitas conseguiram com o tempo tomar o
poder politico tanto em Judá como em Israel através dos Juizes e após isso
tornaram a narrativa dos profetas levitas contra a Deusa Mãe a narrativa oficial,
profetas como Jeremias perseguissem o culto a deusa entre os hebreus, inclusive
com acusações sobre pecado, comportamento, e que problemas climáticos seriam
culpa das mulheres que cultuavam a deusa e que isso traria a “ira de Yahvé” (
lembram de algo?)
Para
mais detalhes vejam nosso artigo sobre Asherá e Madalena e a gnosis, pois
podemos resumir que esse foi o ponto onde as monarquias acataram a imposição
dos levitas de ir contra a religião popular, e talvez essa tenha sido sua
queda, e com isso as sacerdotisas e as famílias da antiga nobreza foram
colocadas fora do poder político durante séculos até hoje.
Madalena
era sacerdotisa da deusa Asherá e Ísis em Magdala, onde havia uma torre para
Asherá, quando conheceu Yeoshuá, que hoje chamam Jesus, ela criou com ele um
vinculo espiritual de discipulado, de apostola, más também de esposa através de
um casamento dinástico pois ela era da casa de Benjamim e ele da casa de David
por linhagem sanguínea, o que lhes daria, pela tradição um direito ao trono
caso fosse reestabelido e essa era uma boa nova para os simpatizantes da queda
da casta rabínica que dominava através de acordos com Roma o poder em Jerusalem.
Nós
sabemos por alto o aconteceu pois os evangelhos foram bastante modificados para
apagar a memória e a história de Yeoshua e Madalena e promover o culto a um
salvador imolado em holocausto pelos pecados humanos, porém os evangelhos e
textos gnósticos como o Pitis Sophia, o evangelho de Felipe, o Evangelho de
Madalena que conseguiram sobreviver nos dão uma idéia do quanto Madalena era próxima,
e era importante no circulo interno dos discípulos de Yeoshuá.
Isso
enfurecia Pedro, que mesmo tendo negado Yeoshuá ainda permaneceu na tradição
que ele deixou, más parece que não gostava muito de mulheres e no Pitis Sophia
ele declara isso assim como em epistolas, por que será que Roma o escolheu para
simbolizar o pontificado?
Os
Arcontes* , o patriarcado, durante séculos vem perseguindo e tentando destruir
a pratica e a existência das sacerdotisas por que sabem do poder restaurador e libertador
da Deusa, e do amor, contra a tirania que o mundo vive hoje.
Por
isso criaram a caça as bruxas na idade média, por isso perseguiram as mulheres
livres no mundo todo.
A
ambição humana tirou o direito das mulheres antigas de curarem com as ervas,
tachando-as de bruxas, para depois se apropriar desse conhecimento, controlar a
produção das ervas e plantas através da indústria farmacêutica e de drogas,
invertendo tudo violentamente apenas por lucro, como tem feito a séculos.
Isso
precisa mudar, não é apenas na esfera social e política que os homens, os
homens vis que controlam o mundo, tiram o poder feminino que equilibraria a
situação. É na esfera espiritual que está o problema, e isso é tão pouco
falado, tão pouco entendido, as mulheres, e também os homens mais conscientes,
despertos de sua presença feminina, precisam resgatar o sagrado feminino e o
poder das sacerdotisas.
Está
na hora de ressuscitar os mistérios de Isis e as sacerdotisas de Isis no mundo
:
Se
criar grupos da irmandade da Rosa :
E
quem sabe templos domésticos da Deusa :
As
mulheres podem hoje aproveitar a democracia que temos e se unir em grupos ,
casas, lugares fora do domínio de instituições hierarquizadas que só querem
poder e dinheiro como as igrejas de hoje e criarem seu próprio espaço sagrado.
Esse é o momento de fazer o convite as Wiccans, as filhas de santo, as mediuns, videntes, artesãs, e as que simplesmente buscam um espaço de conexão com a deusa e criar esse espaço, em sua casa, na universidade, no campo, na praia, na associação cultural mais acessível.
Para qualquer duvida ou apoio prático estamos a disposição com dicas ou orientação, contate-nos.
Um lugar de amor, dança, musica, beleza, flores, onde a deusa seja representada em todas as suas formas: Isis, Maria, Kalí, Tara, Vênus, Iansã, Lakshmí, Radha junto com seus aspectos masculinos, e aprenderem sobre as invocações e magias da deusa juntas, para criar um vórtice onde possam curar, transmitir seu poder, honrar seus ciclos e enviar essa energia pela paz e transformação do mundo.
A Deusa retornou e a deusa quer paz,
Vitória da luz.
Sri Amritananda R. & Srimati Tara devidasi.