Liane Alves ( sexualidade
taoísta )
De acordo com antigos e
novos conhecimentos, ter orgasmo é uma coisa, ejacular é outra. Se homens e
mulheres entenderem bem essa lição, a vida sexual (e a rotina caseira.) nunca
mais serão as mesmas.
Conta-se que, ao distribuir
as características que distinguiriam os homens das mulheres (e vice-versa),
Deus teria perguntado: “Tenho aqui duas qualidades sensacionais. Quem gostaria,
por exemplo, de fazer xixi em pé?” Os homens gritaram em uníssono: “Eu, eu,
eu!” O Criador concordou, sorrindo, e disse: “Tudo bem, então.
As mulheres ficam com os
orgasmos múltiplos…”
Essa piada engraçadinha
resume o que todo mundo acha que sabe – que orgasmo múltiplo é coisa para
mulher e o prazer fulminante (seis segundos, no máximo) é característica do
homem. E se não for assim? E se o homem for capaz de ter vários orgasmos em um
mesmo encontro, mantendo durante horas seu pênis ereto?
Pois bem, isso é possível,
sim. Essa verdadeira pepita de ouro do prazer sensual é conhecida por poucos
felizardos no Ocidente, mas faz parte da sabedoria do Oriente e lá é praticada
por milhões de pessoas. Nós é que, nesses assuntos, parece que sempre pegamos o
bonde andando.
Fiz uma rápida pesquisa
entre meus amigos: você sabia que é possível gozar sem ejacular? Dez deles
começaram a frase com a mesma expressão: “O quêêê…?!” (vale dizer que conheço
um monte de gente razoavelmente bem informada, jornalistas,
fotógrafos, professores e
profissionais liberais). Ninguém tinha a mais remota idéia dessa possibilidade,
embora um ou outro já tivesse ouvido falar da relação sexual sem emissão de
esperma. “Mas eu imaginava que, sem ejaculação, não era possível ter orgasmo,
por isso nem me interessei tanto pelo assunto…”, admitiu um deles, candidamente.
Honrosa exceção, um dos meus
amigos já tinha ouvido falar do “tao do amor”, o conjunto de técnicas sexuais
utilizadas na China desde mais de 2 500 anos. E, ao se aprofundar nesse
assunto, havia passado rapidamente da teoria para a prática.
Giorgio, arquiteto de Turim,
na Itália, é o maior buscador que já conheci. Ele acabou encontrando o tao do
amor porque se interessa por tudo o que se relaciona com a espiritualidade, do
I Ching ao Corão, da dança dos dervixes à meditação tântrica tibetana.
Estudando o Taoísmo, chegou às práticas sexuais dos antigos mestres chineses.
Não foi, portanto, para
melhorar sua performance na cama – embora isso tivesse acontecido naturalmente,
ele me garante, em conseqüência das práticas. Ter vários ápices numa relação
(uma hora e meia de duração, em média) foi se tornando normal para ele e sua
companheira. E olha que meu amigo italiano já tem quase 60 anos! Ele dá uma
sugestão: podemos percorrer os mesmos passos com alguém com quem a gente se dá
bem, bons livros e muita prática. É só começar.
Quem pode dizer que conhece
realmente as inúmeras possibilidades do sexo? Os pretensiosos, sem dúvida. É
verdade que, na internet, podem ser encontradas mais de 158 mil descrições de
cunnilingus ou 359 mil posições sexuais diferentes. Mas não é esse o ponto.
As técnicas do Oriente não
servem para quem quer ganhar concursos de proezas. As técnicas conduzem a uma
relação mais profunda e espiritual. Essa é a base. Depois disso, aí sim, é que
acontecem as variações, como numa melodia. Técnica só não vale – esse é o
primeiro mandamento de qualquer manual erótico oriental. Jolan Chang, um gênio
na descrição do tao do amor, diz que, para conhecer o amor prazeroso, é preciso
saber apreciar o pôr-do-sol dourado após um dia de chuva, a alegria de
sentar-se sob uma árvore florida num vale cercado de montanhas ou de entrar
debaixo da água gelada de uma cachoeira. Em outras palavras, é preciso ter os sentidos
abertos, tesão pela vida.
Por isso, Chang recomenda
aguçar o tato, o paladar, a audição e a visão como primeiro exercício para a
arte amorosa (está tudo no livro dele O Taoísmo do Amor e do Sexo, editora
Nórdica). Isso porque o prazer sexual, diz ele, está profundamente ligado à
apreciação poética de cada momento.
Outra afirmação básica do
tao do amor: a emissão de ching, ou esperma, é um golpe mortal na vitalidade
masculina, um veneno. Calma, isso não quer dizer que o homem não possa ejacular
nunca. Mas, sim, que quanto menos ejacular, melhor.
Jolan Chang recomenda uma
tabelinha. Um rapaz de 20 anos, por exemplo, pode ter uma emissão a cada quatro
dias. Um homem de 30, deve tê-la a cada oito dias. Um de 40, a cada dez dias. E
um de 50, a cada 20. O homem de 60 anos não deveria ejacular mais. Porém, se
for muito forte e saudável, pode fazê-lo apenas uma vez por mês.
Mas que fique bem claro: as
relações sexuais ficam completamente liberadas, até diversas vezes por dia! O
que o homem não pode é emitir (mais um pouquinho e explicamos como…).
Se as práticas taoístas são
tão boas assim para manter a saúde e a energia vital do homem, por que que essa
“novidade” ainda não saiu numa manchete do The New York Times? O pior – ou o
melhor – é que já saiu, sim. As pesquisas do doutor Wayne van Voorthies, da
Universidade do Arizona, ocuparam a primeira página do prestigiado jornal
americano no dia 3 de dezembro de 1992.
Minhocas orgasmáticas
Ao estudar minhocas
nematóides – que muitas vezes substituem os ratinhos em pesquisas científicas,
porque também têm similaridades com nossos processos bioquímicos -, o doutor
van Voorthies descobriu um fato surpreendente. As minhocas do primeiro grupo do
seu estudo – que podiam copular livremente e esgotar seu estoque de esperma –
viveram 8,1 dias; as do segundo grupo, que podiam ser chamadas de minhocas
“monásticas”, pois não mantinham relação sexual, viveram 11,1 dias. Já as do
terceiro grupo, que o cientista batizou de minhocas “orgasmáticas”, que não
produziam esperma mas que podiam copular sempre que quisessem, sobreviveram 14
dias, 50% a mais que as minhocas do primeiro grupo!
O doutor van Voorthies se
surpreendeu tanto que refez seu estudo quatro vezes para se certificar dos
resultados. O artigo do The New York Times concluiu que “gerar esperma é muito
mais difícil do que os cientistas imaginavam. Isso requer um desvio de recursos
que pode vir a prejudicar a saúde masculina a longo prazo”. Touché! É o que repetem,
há milênios, os taoístas chineses.
A notícia está citada no
livro Orgasmos Múltiplos do Homem – Os Segredos do Prazer Prolongado (editora
Objetiva), uma verdadeira Bíblia das práticas sexuais do tao do amor, escrito
por Mantak Chia, mestre em sexualidade taoísta e qi gong (leia mais sobre qi
gong na seção “Respostas”), e Douglas Abrams Arava, da Universidade da Califórnia.
Uma obra que não pode faltar na estante – do seu quarto, eu sugiro.
O pico de jade
Para conhecer a linguagem
dos livros que falam da arte de não emitir, é preciso compreender sua
terminologia peculiar. Quando o livro é técnico, como as várias obras da médica
americana Barbara Keesling, de cara a gente fica sabendo que “PC” não é um
computador, mas sim o músculo pubococcígeo que comanda as contrações genitais.
O PC está presente em 90% das páginas dos manuais eróticos ocidentais.
Há muitos exercícios para
melhorar a performance desse músculo. E fazendo isso, garante Keesling, autora
de Como fazer Amor a Noite Toda… e Levar uma Mulher à Loucura (editora Record),
uma vagina pode se tornar mais apertada e estimulante, ou o homem terá mais
facilidade para contrair o músculo certo na hora de evitar a emissão.
Já quando a obra se refere a
práticas taoístas da antiga China, as palavras empregadas são saborosíssimas.
“Pico de jade” é fácil de adivinhar. “Portão escuro” também. Fica mais difícil
entender que “pico do lótus vermelho” são os lábios ou que “flor do luar” se
refere à lubrificação feminina. Em todo caso, sempre há uma explicação para o
leitor, entre parênteses, quando aparecem esses termos mais difíceis.
Os nomes das posições
sexuais também são encantadores. Quando a mulher usa as duas mãos para agarrar
o pescoço do parceiro e entrelaça os pés nas suas costas está na posição
“bicho-de-seda tecendo o casulo”. E por aí vai: martins-pescadores unidos, borboletas
em vôo, cão de outono, bambus perto do altar, fênix segurando sua galinha, macaco
que canta na árvore ou gaivotas voadoras são algumas das outras variações.
A hora da verdade
Nas obras taoístas,
particulariza-se com detalhes a quantidade das estocadas. A seqüência duas
rasas e uma profunda é a mais clássica, e pode se transformar, por exemplo, em
nove rasas e uma profunda. Os chineses também ensinam que as estocadas podem
ser diretas, indiretas, enviezadas para a direita, para a esquerda, ou até
circulares. E não para ganhar medalha de atletismo, mas porque existe aí uma função
terapêutica.
Cada diferente tipo de
estocada massageia um ponto, no pênis ou na vagina, que está relacionado a um
órgão do corpo. Por isso, afirmam os conhecedores dessa arte, é que as relações
sexuais são tão benéficas: elas ajudam a tonificar todos os órgãos. Se outros
motivos não existissem, esse só já bastava. Ora. existe melhor maneira de fazer
massagem do que com os órgãos sexuais?
Então, neste ritmo de duas
estocadas rasas e uma profunda, o homem chegará a um momento em que terá
vontade de ejacular. É a hora da verdade. Antes de chegar a um ponto sem
retorno, ele vai sentir que o orgasmo se aproxima. Exercícios, feitos anteriormente
a solo (sozinho), ajudam a identificar esse momento vital. A parceira, que é
cúmplice e, logicamente, também segue as muito sábias instruções do tao, saberá
que a hora X chegou.
Ondas de prazer
Muitas técnicas costumam
ajudar nesse momento. O homem pode, simplesmente, retirar o pênis da vagina por
alguns segundos, que é a chamada técnica do cadeado. Também pode deslocar a
atenção para a sua respiração, que fica mais profunda. Há também a opção dele,
ou de sua parceira, de pressionar o períneo (ponto que fica entre o ânus e o
escroto) e desviar a energia dos genitais para a espinha dorsal. Ou, ainda, é
possível apertar, com os dedos em forma de anel, a base do pênis (por favor, se
quiser tentar essas técnicas, compre os bons livros e leia-os antes de se
aventurar).
Passado o perigo, volta
então o ritmo anterior de duas estocadas rasas e uma profunda. Outras posições
podem ser tentadas mas não se aconselha, no começo, as mais profundas, pois
assim o homem terá muita vontade de emitir. Nesse vaivém tranqüilo, o homem se
nutre da energia yin feminina e a mulher, da força yang masculina.
Disse o mestre Osho, autor
da obra Do Sexo à Supraconsciência, editora Cultrix, que se for possível manter
uma união sexual por uma hora ou mais, uma verdadeira corrente elétrica
alimentará os dois amantes de vitalidade e energia.
E os orgasmos masculinos
múltiplos? Eles começam a acontecer quando se pratica a não-emissão e se
percebe que, antes da ejaculação, é possivel desviar a energia para os orgasmos
– e não para o ato de ejacular.
Segundo o mestre Mantak
Chia, o orgasmo não-ejaculatório pode ser sentido tanto na pélvis quanto em
outras partes do corpo – os taoístas dizem que é possível sentir as contrações
orgasmásticas até dentro do cérebro. Parece ficção científica mas ele jura que
é verdade.
Mantak também afirma que
tanto homens quanto mulheres podem ter orgasmos múltiplos discretos (com um
clímax seguido de outros ápices mais suaves) bem como orgasmos contínuos (em
que cada ápice é mais forte que o outro). Contudo, para chegar a isso, a maioria
das mulheres precisará de estímulo durante muito tempo – simbolicamente, mais
de mil estocadas, ou cerca de duas horas, pelos meus cálculos. O seu parceiro,
portanto, terá de estar bem preparado para a maratona.
Concluindo, o homem que
aprende a manter a ereção e a aproveitar sua natureza multiprazerosa é o par
perfeito da mulher que também deseja usufruir da alegria dos orgasmos
múltiplos. Foram feitos um para o outro.
Dizem nossos irmãos da China
que todos podemos ser esse homem ou essa mulher. Para isso, é só mergulhar num
clima terno e amoroso, quase meditativo, ter tempo e conhecer algumas técnicas
essenciais. Portanto, mesmo não sendo mestre e sem precisar lançar mão de nada
muito exótico ou difícil, com calma, aos poucos, qualquer um pode chegar lá.
Sem gozação.
🙏🌺
Namastê